segunda-feira, 15 de agosto de 2011

XOXÓ CONVERSA COM B. CASOY SOBRE A NOVA SAFRA DE AUTORES DA LITERATURA BRASILEIRA. CONFIRAM!

B. CASOY – Xoxó, quero iniciar a conversa agradecendo a sua disposição em me conceder esta entrevista, fato raro. Você, o João Gilberto e o Rubem Fonseca são já carimbados como artistas que mantém uma relação, digamos, complicada com a imprensa. Você conhece, e admira, seus colegas neurastênicos?
Conheço e admiro os dois. São criadores que me proporcionam, a despeito de diversas obras falhadas ou repetitivas, a mesma sensação: um sentimento amplo de cosmopolitismo. A arte desinspirada, em toda parte, e desde sempre, adquire os mesmos contornos – alguma forma de regionalismo e/ou alguma forma de moralismo e, o que é pior, sobretudo quando se trata de poesia, assume aquele tom modorrento, maçante, que é uma tentativa canhestra de afetar seriedade. Isto me diverte...

B. CASOY – ...mas e aquela turma do verso curtinho, da quase anulação do eu-lírico...
os minimalóides, eles se pretendem os haikaístas ocidentais: rápidos e sintéticos como uma ejaculação precoce, o problema é que seus parceiros não gozam. Embora ainda apareçam aos milhares, este tipo de poeta já não é a expressão mais confiável do que de fato vem a ser a paisagem lírica desinspirada contemporânea no Brasil. Cada vez mais, ‘artistas’ discorrerão sua falta de talento em versos medidos e temas ‘clássicos’ que, ao crítico despreparado e produzido nesta mesma fornada, parecerá o supra-sumo da inspiração artística. É neste sentido que Silvério Duque e Carpinejar são os dois lados de uma mesma moeda velha e sem valor, diga-se de passagem.      

B. CASOY – E o poeta Bruno Tolentino, algo de sua obra importa para o momento atual da literatura no Brasil?
A poesia de Tolentino surge no Brasil com a mesma força de um abalo sísmico, ou seja, com a força de algo que vem do interior e contra a qual não há defesa. Parte desta força sua poesia jamais perderá, pois, a despeito dela ter se apresentado como novidade, brilhando em meio a uma caterva de poetas niilistas chatos, num ambiente cultural dominado por ideias que se repetiam há pelo menos 30 anos, ela é, mais do que tudo, uma palavra que se afirma de modo elementar. Tolentino é um poeta que tem um tema, uma voz e não um mero tateador habilidoso construindo textos de significação difusa. E é aí que de fato reside, e não nas suas afetadas citações, o seu pé na tradição. Portanto...

B. CASOY – ...portanto sua obra é, como ele próprio dizia, a maior dentre as maiores, ou segundo o Alexei Bueno, uma música de feira?
É óbvio que nem uma coisa nem outra! Alexei é meio abobalhado, entretanto, ele acerta quando afirma que a poesia de Tolentino abusa dos enjambements e possui repertório curto. Agora, o mais interessante é que tudo isto foi dito e os seguidores do poeta, seus hiperbólicos admiradores, tiveram que enfiar a língua no... Os tais críticos sedizentes, articulistas sedizentes, poetas sedizentes etc. jamais fizeram um estudo da obra de Tolentino (nem da de ninguém, alias!), limitam-se a gritar por aí, ele é o maior, poeta cristão, superior a Shakespeare... Eu estudei a obra completa do poeta. Produzi muitas páginas a respeito, que serão publicadas, em resumo, lá no blog, no momento correto. E por ter feito esta verificação, eu me pergunto se os tolentinianos realmente leram A balada do cárcere, por exemplo, e perceberam que o poeta teve a enorme sorte de, ao ser preso, em Dartmoor, acabar topando com a personagem de Oscar Wilde e que, quando acaba a descrição da personagem, o poema se transforma numa sucessão de citações literárias que deixam o leitor à beira de uma morte por asfixia. Além disso, será que eles leram A imitação do amanhecer e viram que pelo menos metade do que lá está é mera repetição de um escritor mais que prolixo?

B. CASOY – Não sei, Xoxó. Vamos falar do blog. Muitos leitores, muito sucesso e muita inimizade?
Sim, sim! Leitores às pencas. Teve dias em que o blog chegou a ter mais de mil acessos, é impressionante! A inimizade é consequência do trabalho do sátiro. Nem todos compreendem o espírito da coisa. E as acusações (coisa chatíssima) de processo, de agressão etc. não param. Além disso, a forma com a qual se protegem é, como o que eles escrevem, sempre a mesma conversa. Xoxó é frustrado! Xoxó é isso, é aquilo, e sou mesmo, mas o que de fato incomoda é que sou bom, porra! Por isso, vão ter que me engolir (risos)! Agora, vamos lhes dar crédito, Xoxó é só alguém com inveja, não se sabe do quê, mas enfim, é só alguém com inveja. O leitor pode então visitar suas ‘obras’, seus sites, e ver com os próprios olhos que a piada já vem pronta. Outro dia...

B. CASOY – ...outro dia disseram que você era uma revelação estonteante da poesia de escárnio em Língua Portuguesa...
...foi o Érico Nogueira quem o disse...

B. CASOY – ...vocês se conhecem? Melhor, você conhece o que ele escreve? Ele é bom poeta?
Não nos conhecemos, nunca conversamos, nem mesmo por e-mail. Inclusive, gostaria até de lhe recomendar o meu oftalmologista, pois o coitado sofre de uma conjuntivite crônica. Li o seu primeiro livro no final de 2009, se não estou enganado. Grata surpresa! É um poeta erudito, com amplo domínio da linguagem alegórica, fato que lhe proporciona concisão, clareza e musicalidade espontânea. Até aí nada demais! O que de fato o diferencia é algo que eu chamaria de elegância. Seus poemas são conscientemente compostos com base neste senso, que parece tão natural, de estilo e bom gosto e que em nenhum momento se assemelha a afetação. Entretanto, sua poesia ainda carece de certa robustez temática, digamos assim. Ele já apresenta uma voz muito bela, mas seus temas ainda são muito ralos. Holderlin, Holderlinho etc. tudo isto é firula; bela firula, por sinal, mas ainda assim...

B. CASOY – ...é um poeta de linhagem tolentiniana?
De modo algum! Seu verso é por demais conciso e seu tom é maior. Seu apuro formal, imensamente superior e sua busca temática, mais sincera. Óbvio que quando falamos em Tolentino, falamos num poeta mais experimentado. Nogueira tem amplas chances de chegar lá, embora algumas de suas últimas produções, publicadas em seu site, estejam num nível um pouco abaixo do que fora apresentado em O livro de Scardanelli. Na Bahia...

B. CASOY – ... quem é Xoxó, onde vive, o que faz?
Sou Caribó Literato, corno, poeta e viado (risos). Vivo na Bahia, terra de meu padrinho Jorge Amado. E por falar nele, a prosa brasileira contemporânea é...

B. CASOY – ...vamos deixar a prosa para outro dia. Então, segundo o que pude apurar, não há bons poetas de linhagem tolentiniana?
Não. Na verdade, me parece que a herança intelectual de Bruno Tolentino até então é muito mais uma ideia de cultura do que necessariamente uma leitura aprofundada de sua obra – e, aliás, uma ideia de cultura muito restrita a um grupo específico e que deve muito também aos escritos do Olavo de Carvalho. Há alguns jovens, para ilustrar a questão, que leram as coisas do Bruno superficialmente e, de alguma forma, passaram a emular o que nela há de pior, que é o tom, o palavrosismo, as citações etc. Isto ocorre evidentemente com o Silvério Duque. No mais...

B. CASOY – ...esta ideia de cultura é algo ruim?
É importante observar que esta ideia de cultura traz de volta ao ambiente artístico brasileiro a simpatia pela erudição, e isto é muito bom. Entretanto, ela, a erudição, não nos garante uma arte mais forte, mais expressiva. Ela nos garante pessoas mais comprometidas e até melhor preparadas. Um exemplo claro disto são os jovens tradutores, tais como o Pedro Sette Câmara. Traduz, apresenta uma visão muito esclarecida das questões que envolvem a produção de arte etc., mas escrevendo é um Gilberto Braga mais empoladinho, e menos atraente. Contando ninguém acredita: Valter, Carlota, Guilherme, um enredo de intrigas amorosas claramente manipuladas pelo autor e, como se isto fosse pouco, evocação de poesia parnasiana e consciência católica – puta que pariu! eu fiquei surpreso, porque o carinha aparenta ter condição para mais, mas talento é uma coisa extremamente misteriosa. Veja o Jessé de Almeida Primo, que é uma cria do Tolentino, verifique seu blog e mostre pra mim se, do que há lá, além do que o poeta já disse, tem algo mais do que análises ginasianas de trechos de poemas. E a fixação dele por catolicismos e que tais é tão paranóica que no seu último post, leiam lá, ele confunde uma troça do Alphonsus Guimarães em relação a Portugal com uma oração. É por isso que tem que ter Xoxó no seu fiofó!                            

B. CASOY – (risos) E o que você quer com tudo isto? E aquele bando de desconhecidos que aparecem no blog: Gustavo Felicíssimo, José Inácio vieira de Mello, Mayrant Gallo etc., quem são eles?
Estes aí são os meus animais de estimação. Eles estão lá para nos divertir. São a fauna e a flora marinha da literatura. Nem ler eles lêem, vivem só de furicagem nos blogs e nas edições custeadas com o saldo de meses e meses de economia do leite das crianças, coitados! São trocadores de bajulação. Se você disser que eles são bons, eles retribuem de modo assustadoramente desvairado. Dêem uma chegadinha no blog deles e vejam os elogios despropositados. Portanto, Casoy, eu só quero me divertir. Na verdade, sou biba vagabunda que acertou na loteria. Além de caçar macho, nada tenho pra fazer. Então, li em algum lugar que só os humanos riem. Não entendi, porque eu que sou um animal silvestre e rio o tempo todo. Eles que são racionais, intelectuais, passam por mim com a cara fechada numa seriedade que até dá medo, pois...

B. CASOY – ...você hoje está tão feliz, tão falante, saltitante...
...é o reconhecimento, gato, o reconhecimento!              

           
  
      

10 comentários:

  1. Eta, cabra bom do capeta! Parabéns, Xoxó. A propósito: gostei sobretudo do "onde está o teu tesouro, aí está também o teu coração". Vê se me manda um e-mail com endereço e tudo, que eu te mando o meu "Dois". E me diz logo quem v. é, porra! Abraço. E.

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  2. Que fique claro: discordo de v., no tocante ao Pedro e ao Jessé!!!

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  3. Xoxó agradece a atenção e aproveita para informar que o blog é totalmente aberto a comentários, discordâncias, debates e desafios. Inclusive, segue um aqui: Xoxó desafia Jessé a apresentar visão original e consistente (e escritas num estilo menos tosco) de obras literárias a fim de que possa receber do blog Xoxó no seu fiofó o diploma de graduado. Aqui na Bahia ele tem a maior fama de bom leitor, não duvido, mas daí a crítico o passo é largo.

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  4. Ah sim, ia esquecendo! Peço para que o Pedro Sette entre em contato com o blog assim que puder. Precisamos conversar!

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  5. Querido Xoxó, parabéns pelo blog, pelos poemas, e sobretudo pela inteligência e elegância dos seus textos. Não só a Bahia, mas o Brasil estava precisando de alguém assim.
    Se você fosse mulher, juro que te comia!

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  6. Xoxó agradece a atenção e aproveita para informar que o blog está aberto a críticas, elogios, contestações e, sobretudo, cantadas homoeróticas. Obrigado, Sid, voc~e é lindinho!


    Encantada, Xoxó

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  7. Querido Xoxó,
    o problema é que pra conseguir comentar precisa ter conta no Gmail, Wordpress, o diabo...
    Tive que abrir uma conta só pra comentar.
    Por que você não muda as opções aí?

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  8. Xoxó agradece a observação e aproveita para informar que entrará em contato com a equipe técnica do blog para resolver esta questão.

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  9. Xoxó, sou viado e homofóbico. Me identifico completamente com sua postura - em ângulo reto -, sua coragem, seu pensamento e sua estética. Não há ninguém nesse Brasil, que eu tenha notícia, que escreva tão bem um chiste, e com um conteúdo invejável. Agudez de espírito e perícia em poética. Parabéns. Se vc fosse homem eu te comia.

    Beijo na bunda!

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  10. Xoxó agradece a atenção e aproveita para informar que o blog está aberto a... tudo. Tô nas nuvens! É tanto macho querendo me comer!


    Aboletada, Xoxó

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