quarta-feira, 31 de agosto de 2011

EPÍGRAFE CENSURADA DE "MAQUIAVEL OU A CONFUSÃO DEMONÍACA", O MAIS NOVO LIVRO DE SIMÃO BACAMARTE

                                                               para Rato Callunga
          

Maquiavélico Maquiavel,
mil prolegômenos tentaram
rasgar a seda do teu véu

e, no entanto, se propalo,
aos quatro cantos de Babel,
que consegui desembrulhá-lo,

é pra pagar meu aluguel,
a coca-cola, o cigarro,
o lexotan e o pão de mel.

                                                   De Caribó Literato,
                                                   Corno, poeta e viado   

(poema para ser lido aos berros no blog talk radio trueoutspeak)

domingo, 28 de agosto de 2011

ÉRICO NOGUEIRA, MARCO CATALÃO E XOXÓ DIALOGAM SEM RESERVAS

Paris, Saint German dês Près, Rue de l’ancienne comédie, Restaurant Le Procope. O fato? Minha cabeça pendia ao embalo do pastis. A viagem? Achar o lugar do Livro de Scardanelli no Cânone Ocidental. O idílio? Dois raibãs dissecavam-me corpo e alma. A coincidência? Salut, Érico Nogueira; moi, Marco Catalão; Je suis Caribó Xoxó. Conclusão? Arrastei-os para um papo, precisava decidir, pela primeira vez a vida obrigava-me a uma decisão.        
(Marco Catalão é autor de O cânone acidental e Érico Nogueira é autor de O livro de Scardanelli, ambos publicados pela editora É Realizações)


XOXÓ Sabe, senhores, estive pensando, nos últimos dias, numa frase lida em The Dying Animal (Philip Roth) que diz assim: The great biological joke on people is that you are intimate before you know anything about the other person. Isto tem a ver com poesia, com essa coisa de significação profunda, de apreciação lenta... não tem? Então, é daí que me pergunto até que ponto esta não é uma situação exclusiva de um determinado período histórico, ou seja, não houve um tempo em que os poemas eram mais ‘fáceis’ aos seus leitores, ou um tempo em que as pessoas eram mais parecidas com o que de imediato demonstravam? Não terá a complexidade se transformado num elemento constitutivo da poesia canônica ou das personalidades ‘interessantes’? Um poema de Catulo, ou mesmo um soneto de Shakespeare, não eram mais facilmente assimilados por seus leitores do que são os de Geoffrey Hill ou Bonnefoy?

E.N. Essa frase do Roth é bonita mesmo, e bem verdadeira, ao que me parece, no que toca às relações interpessoais. Já a sua relação com a poesia -- depende de quem lê a frase, de quem faz essa relação. Se entendi bem, Roth parece distinguir dois níveis de intimidade entre as pessoas: somos 'íntimos' delas -- isto é, humanos como elas -- antes de sermos realmente íntimos, escrito agora sem aspas. A primeira intimidade nos é congênita, nascemos com ela; mas pra conseguir a segunda precisamos de algum esforço, de tempo, e por isso quebramos a cara e nos decepcionamos -- ou rimos -- a vida toda... Bem, acho que a intimidade que no passado havia, e hoje não há mais, entre poesia e leitores de poesia era a primeira, a culturalmente 'congênita', digamos, não a segunda, a que depende do esforço individual. Isso facilitava as coisas, sem dúvida, e Catulo só podia chamar César de viado sem precisar se preocupar com processo, prisão ou perseguição porque ambos partilhavam de valores culturais semelhantes. A apreciação cuidadosa e, digamos, profunda da poesia, porém, sempre exigiu bastante esforço do leitor ou ouvinte. Píndaro é difícil pra caralho -- prum grego do séc. V a.C. também, não só pra nós, hehe. Em suma: cê tá fodido, Xoxó; as pessoas que reclamam dos seus versos parece que não partilham dos seus valores. Daí a gritaria.

M.C. Uma das desgraças da nossa época é o culto à personalidade, e os escritores naturalmente não estão imunes a isso. Mas os melhores escritores que existiram, Shakespeare, Pessoa e Homero, não tinham personalidade nenhuma ― ou pelo menos não deixaram que a sua personalidade os impedisse de serem sempre outros. Você mesmo, Xoxó, não existe, não é ninguém, e os seus textos são muito mais interessantes do que sua suposta personalidade... Ou melhor: seus textos são sua personalidade.
        Quanto à complexidade, sinceramente, não sei se os textos de Hill ou Bonnefoy são mais complexos que os de Shakespeare e Catulo... Talvez sejam só mais complicados. Por outro lado, quem é mais complexo, Gôngora ou cummings? Hölderlin ou João Cabral?

XOXÓ É mesmo, bonito, meus textos são a minha personalidade xoxística, acho até que por isso compreendo melhor Gôngora do que cummings, João Cabral do que Hölderlin, e os que reclamam das xoxotagens não partilham mesmo dos meus valores, Ericozinho, mas querem me fuder, você foi em cima, é sempre assim? (...) amar primeiro e conhecer em seguida, mas e quem não ama primeiro, e quem não exercita este amar congênito, vai ler prosa? Seria então a poesia a apreciação de uma mulher bem vestida, bem maquiada, bem tratada, convidando-nos a amá-la à primeira vista (arre!)? E a prosa, uma conversa inicial por telefone, um bilhete sugestivo ao fim de um dia árduo de trabalho, a ponderação das características do outro explicitadas por um amigo em comum? Há propriamente algo que diferencie a prosa da poesia? A mim, parece que a questão fundamental do fosso que se abriu entre o leitor e o autor de poesia guarda relação com a problemática verso – prosa, cês não acham?

M.C. Enquanto o nosso mundo for o que é, o fosso só vai se alargar cada vez mais. Não há lugar pra poesia na nossa sociedade (e não falo só do Brasil), mas isso não deveria espantar ninguém. O que você queria, Xoxó? Que lessem seus poemas no caminho entre a academia e o show da Ivete Sangalo? Que a Globo fizesse adaptações das suas pendengas literárias? Que o seu site tivesse mais acessos que o da Bruna Surfistinha? Vai esperando...

E.N. É sempre assim, Xoxó: a inveja mata... Enfim, a prosa simplesmente narrativa -- isto é, aquela que quer sobretudo 'contar uma história', e se concentra no 'quê', não (ou não principalmente) no 'como' -- não me interessa nadinha, e perde de lavada, hoje, pro cinema. Quanto ao fosso -- acho que se relaciona, na verdade, com o lance da forma, quer se trate de uma prosa como a de Hermann Broch, ou da poesia de um Ezra Pound. E a forma, como cê disse, Xoxó, tem que ver com amor à primeira vista.
   
XOXÓ O que diz, como diz e quem diz é a poesia (Horácio). O que diz não é cada vez mais insistentemente ‘inspirado’ no saldo literário da tradição? Não tem poema por aí que obriga o leitor a dar uma revisada na História da Literatura para iniciar o diálogo? Os temas se esgotaram ou os professores todos se danaram a escrever?

E.N. Tá aí um ponto interessante. A poesia sempre foi emulação, cópia, roubo, apropriação do legado -- e isso desde o papai Homero, que deve ter se apropriado de gente que nos escapa... O ponto é: você pode ser um pedante frustrado e achar que erudição ritmada é sinônimo de poesia. O problema é que outros pedantes frustrados que eventualmente tenham lugar de destaque na academia também podem achar que é -- e aí o circo tá armado, e os poetas de verdade, fodidos. A verdadeira erudição, porém -- a erudição de Horácio, por exemplo, que cê bem lembrou --, nunca é veneno, mas um fortificante pra poesia. Ora: mas qual a diferença entre verdadeira e falsa erudição, -- entre o verdadeiro e o falso poeta, em suma? Além do talento, que é um troço inexplicável, o que os diferencia é muito simples: amor sapientiae, o amor da verdade. O verdadeiro poeta é o que é veraz consigo mesmo, e que, à maneira de Sócrates, só diz o que lhe parece verdadeiro.  

M.C. A partir do momento em que você escreve um verso, você está dialogando com toda a tradição literária. Não tem como fugir disso. Se você escreve um poema de três versos e dezessete sílabas, está dialogando com Bashō, ainda que nunca tenha ouvido falar dele. O caso de Antonio Porchia é exemplar: um escritor sem qualquer erudição (que, ao que consta, tinha dois livros em casa), em que os leitores encontram ecos de Heráclito, Lao Tsé, Lichtenberg...
O que me parece inegável é que hoje temos acesso muito mais fácil e imediato a uma quantidade imensa de textos, de diversas épocas e lugares, e muitas pessoas acabam confundindo a citação fácil e rasteira com a cultura, que é algo muito mais complexo e lento, que demanda tempo ― tempo que pouquíssimos estão dispostos a gastar...

XOXÓ Por falar em Bashô, tem um haikai pra você, meu lindo:

TATEANDO

Marco Catalão
tão intrépido no nome
tão frouxo na mão

M.C. A mão pode até ser frouxa;
a verga tem que ser dura.
Pois se o pau (ou o verso) é chocho,
Xoxó, nem tua mãe te atura.

E.N. Isso é briga de cachorro grande. Eu é que não vou me meter...
 
XOXÓ Vocês também são católicos, ex-alunos de Simão Bacamarte (Olavo de Carvalho) e integrantes da direita rançosa do Brasil? As credenciais, por favor.

E.N. Eu odeio gente, manada, matilha -- os coletivos, em suma. Afora o Santos Futebol Clube -- ave, Santos! --, não suporto nenhum tipo de agremiação. Também odeio burrice, ainda que seja burro (ou por causa disso mesmo) em muitas situações. Dito isso, é claro que de esquerda eu não sou, pois a esquerda é sempre, de certo modo, coletivista -- e eu, eu quero é que, excetuadas minha mulher, minha mãe e minha irmã, todo o mundo vá tomar no cu. Isso deve me fazer de direita, aos olhos de muitos. 
Não fui aluno do Olavo, a quem vi no máximo duas ou três vezes na vida, sempre em companhia do Bruno Tolentino, meu amigo, que Deus o tenha. E por falar em Deus -- sou católico, sim, mas tenho uma queda pelo Dr. Lutero, e acho que vou me salvar ou me danar única e exclusivamente por culpa minha: um católico solitário e esquisito, portanto, que do próximo não aguenta nem a sombra nem muito menos o cheiro.  

M.C. Não sei do que você está falando, Xoxó. Politicamente, estou à esquerda da esquerda. Não gosto de fanatismos de qualquer tipo ― político, religioso ou esportivo ― mas naturalmente tenho minhas crenças, meus posicionamentos irredutíveis e meu time. Só não acho que eles sejam relevantes para a compreensão do que eu escrevo.

XOXÓ ...aposto com qualquer um que Marcuzão (aglutinação de mar-co-ca-ta-lão) é são paulino, ele é todo chique e todo ponderado. Já o Santos me faz lembrar uma goleada de 6 x 2 que o meu Vitória lhe aplicou aqui no Barradão em 2009 pelo campeonato brasileiro. Menino, essa coisa de excetuadas sua mulher, sua mãe e suas irmãs, todo o mundo ir tomar... olha, vou te dizer, jamais vi maior declaração de amor à humanidade – acabar diz que não gosta do próximo, prefere o anterior, hein gostosinho?     
  
M.C. Haicai não é epigrama;
trocadilho não é poesia.
Xoxó, ou você se afia
ou acaba comendo grama.

E.N. O Santos, como time cristão, vive fazendo caridade. Olha, minha mãe sempre falou que eu era a coisa mais linda do muito -- e eu desde criança acreditei. Não é à-toa que Érico lembra Édipo.  

XOXÓ E a crítica, tá muito crítica? Aonde? Quem?

E.N. Crítica? Xoxó, cê tá de brincadeira, né? Como se diz por aí: crítica de cu é rola.

M.C.  A crítica que se faz por mera profissão, pra ganhar o salário no fim do mês, sem qualquer envolvimento com o texto que se critica, não merece ser levada em conta. A crítica que é compadrio, conchavo, troca de favores entre poetastros que se citam e recitam mutuamente, sequer merece o nome de crítica. A crítica que se finge raivosa e implacável, mas que não tem autocrítica, só engana quem quer ser enganado. A crítica feita pelos próprios poetas, às vezes até muito inventiva e instigante, pode ter muito valor ― mas não como crítica.
          A crítica que não é nenhuma das anteriores, a crítica lúcida e candente, rigorosa e generosa, equânime e aberta, é a única que me interessa. Mas onde a encontrar?

XOXÓ Humm, você também tá querendo a crítica que o Érico falou, hein esperto? Seu Nogueira, de uma vez por todas, deixe de ser egoísta e nos diga logo onde está esta crítica de cu.

E.N. Não perco o meu tempo lendo crítica de crítico -- só me interessa o que o poeta diz ou deixa de dizer. E o que há de melhor, em crítica e em poesia, hoje, me parece ser o já citado Geoffrey Hill. Seus Collected critical writings são a bíblia do gênero, e um pau no cu dos academicuzinhos de plantão. Gosto também do Durs Grünbein, um grande poeta, e um pensador muito consistente. Na Banânia? Acho que o velho Horoldão ainda é a pica mais grossa do pedaço. Mas por pouco tempo, hehe.  

XOXÓ E por falar em influências...

E.N. Meu barato é poesia latina do período de Augusto -- Virgílio, Horácio e Propércio --, e poesia grega do período helenístico: Calímaco e Teócrito. Junte-se Homero a tudo isso, e aí estou eu. Poesia moderna que me tenha influenciado? Petrarca, Camões e Góngora, com certeza. Depois disso? Goethe, Leopardi, Mallarmé, Rilke, Pound -- e acabou. 

M.C. Você poder ver pelos meus livros que eu sou muito influenciável. Lendo o seu blog, já fico com vontade de escrever epigramas; às vezes escrevo em determinado ritmo porque estou com uma música na cabeça... Já falei em outra ocasião sobre minha família abstrata e impossível: Fernando Pessoa, Montaigne, Tchekhov, Tanizaki, Guimarães Rosa, Porchia, Rabelais, Shiki, Machado, Shakespeare, Kafka, Rilke, Kavafis, Proust, Dostoievski... Estes são os autores a quem eu sempre volto, mas há outros, muitos outros...

Epílogo? Ai Deus, esses meninos são demais... não tenho como escolher, quero os dois.

sexta-feira, 26 de agosto de 2011

HOMILIA AMAI-VOS UNS AOS OUTROS - XÓXÓ, DE LONGO PRETO, EXORTA OS POETAS A SE UNIREM


AMAI-VOS UNS AOS OUTROS
a todos os poetas do meu Brasil


Amai-vos uns aos outros,
aiatolás de um povo ateu,
Davis gritando por socorro
frente a um Golias que morreu

envelhecido e tedioso
contando as bolas de papel
que ao golpear seu brônzeo corpo  
fez rir a toda Israel.

Amai-vos uns aos outros
e agradecei a sorte herdada
de ter alguém, não estar só.

Sabeis que o cheiro do teu lodo
e até o suor de tuas calças  
é teu irmão quem sofre em prol.

                                             
                                                        De Caribó Literato,
                                                        corno, poeta e viado

sábado, 20 de agosto de 2011

XOXÓ CHORA ENTRISTECIDO

para  Carlos Emanuel Alves Calliga, com um piparote e um adeus

"Por los tenebrosos rincones de mi cérebro, acurrucados  y desnudos, duermen los extravagantes hijos de mi fantasía"
                                                                           G. A. Bécquer

LAMENTO
Chove em minh’alma
e no meu coração arqueja um náufrago,
as luzes baixam, pedem calma,
meu corpo busca um cadafalso.

Minguado bálsamo,
a dor que dói se estende como a palma,
ciosa mão carente de um amasso
ou cão de guarda a espantar fantasma.

A noite é seu negrume;
a faca, os seus dois gumes;
meu peito, a sua mó.

Em meio a um mar que come o seu cardume,
enxugo as gotas do ciúme
que tenta então tapar o sol.

                                            De Caribó Literato,
                                            corno, poeta e viado    

sexta-feira, 19 de agosto de 2011

GUSTAVO FELICÍSSIMO AMEAÇA AGREDIR, VIOLENTAR, ASSASSINAR XOXÓ

                                                                         para minha amiga, Inaê Sodré

MEDO
Há muitos dias eu não durmo,
meu lindo corpo está um caco;
mais olheiruda do que um sapo,
eu anuncio o fim do mundo.  

Me mata o amor nauseabundo
do felicíssimo Gustavo
que quer cortar os meus dois bagos
e a minha glande em um segundo.

Habilidoso e furibundo,
diz que sou eu o seu fracasso,
a imperícia dos seus passos
num irreal sonho infecundo.

                                              De Caribó Literato,
                                              corno, poeta e viado. 
AMEAÇAS

1
o que eu quero ver é a sua valentia quando estiver olho no olho comigo, putinha de cabaré barato, que só tem coragem de dizer as coisas no campo virtual, escondido sob pseudônimos. vai, faça o que acha certo e digno, sem respeito a ninguém, que não respeitarei sequer seu filho se acaso ele estiver em seu colo, sua mulher se estiver ao seu lado. vai ser pau, cacete mesmo, ainda que paremos os dois em uma delegacia. assim todo mundo vai saber o destino de maledicentes como você, que gostam de chamar as pessoas de vagabundo. não é isso? eu vou te mostrar o vagabundo que sou e você vai aprender a respeitar as pessoas.
GF

2
vc quer se divertir às custas alheias, tudo bem, mas terá que pagar o preço. eu vou te achar ainda que seja no inferno.
GF
 
SENHORES, CHAMEM A POLÍCIA!







GUSTAVO FELICÍSSIMO SELA O DESTINO DE XOXÓ


Quando pararem todos os relógios
e o Guga achar que me deu fim:
com muita pompa e muito alarde,
unindo-me à posteridade,
os jornais vão noticiar assim:

Na Folha de São Paulo: FÃ ALUCINADO MATA PRINCIPAL EPÍGONO DE BOCAGE;
          No Globo: TROGLODITA IMBECIL ASSASSINA FENÔMENO LITERÁRIO BAIANO;
         No Estadão: FUNCIONÁRIO MUNICIPAL DE ILHÉUS ASSASSINA XOXÓ;
         No Terra: CARIBÓ É ASSASSINADO POR AJUDANTE DE COZINHA PAULISTA;
         Bocão News: SACIZEIRO ESTUPRA E MATA ESCRITOR HOMOSSEXUAL NA BAHIA;
         Jornal de Poesia: JORGE AMADO CHORA NO OLIMPO - FORASTEIRO PAULISTA ASSASSINA XOXÓ.

segunda-feira, 15 de agosto de 2011

XOXÓ CONVERSA COM B. CASOY SOBRE A NOVA SAFRA DE AUTORES DA LITERATURA BRASILEIRA. CONFIRAM!

B. CASOY – Xoxó, quero iniciar a conversa agradecendo a sua disposição em me conceder esta entrevista, fato raro. Você, o João Gilberto e o Rubem Fonseca são já carimbados como artistas que mantém uma relação, digamos, complicada com a imprensa. Você conhece, e admira, seus colegas neurastênicos?
Conheço e admiro os dois. São criadores que me proporcionam, a despeito de diversas obras falhadas ou repetitivas, a mesma sensação: um sentimento amplo de cosmopolitismo. A arte desinspirada, em toda parte, e desde sempre, adquire os mesmos contornos – alguma forma de regionalismo e/ou alguma forma de moralismo e, o que é pior, sobretudo quando se trata de poesia, assume aquele tom modorrento, maçante, que é uma tentativa canhestra de afetar seriedade. Isto me diverte...

B. CASOY – ...mas e aquela turma do verso curtinho, da quase anulação do eu-lírico...
os minimalóides, eles se pretendem os haikaístas ocidentais: rápidos e sintéticos como uma ejaculação precoce, o problema é que seus parceiros não gozam. Embora ainda apareçam aos milhares, este tipo de poeta já não é a expressão mais confiável do que de fato vem a ser a paisagem lírica desinspirada contemporânea no Brasil. Cada vez mais, ‘artistas’ discorrerão sua falta de talento em versos medidos e temas ‘clássicos’ que, ao crítico despreparado e produzido nesta mesma fornada, parecerá o supra-sumo da inspiração artística. É neste sentido que Silvério Duque e Carpinejar são os dois lados de uma mesma moeda velha e sem valor, diga-se de passagem.      

B. CASOY – E o poeta Bruno Tolentino, algo de sua obra importa para o momento atual da literatura no Brasil?
A poesia de Tolentino surge no Brasil com a mesma força de um abalo sísmico, ou seja, com a força de algo que vem do interior e contra a qual não há defesa. Parte desta força sua poesia jamais perderá, pois, a despeito dela ter se apresentado como novidade, brilhando em meio a uma caterva de poetas niilistas chatos, num ambiente cultural dominado por ideias que se repetiam há pelo menos 30 anos, ela é, mais do que tudo, uma palavra que se afirma de modo elementar. Tolentino é um poeta que tem um tema, uma voz e não um mero tateador habilidoso construindo textos de significação difusa. E é aí que de fato reside, e não nas suas afetadas citações, o seu pé na tradição. Portanto...

B. CASOY – ...portanto sua obra é, como ele próprio dizia, a maior dentre as maiores, ou segundo o Alexei Bueno, uma música de feira?
É óbvio que nem uma coisa nem outra! Alexei é meio abobalhado, entretanto, ele acerta quando afirma que a poesia de Tolentino abusa dos enjambements e possui repertório curto. Agora, o mais interessante é que tudo isto foi dito e os seguidores do poeta, seus hiperbólicos admiradores, tiveram que enfiar a língua no... Os tais críticos sedizentes, articulistas sedizentes, poetas sedizentes etc. jamais fizeram um estudo da obra de Tolentino (nem da de ninguém, alias!), limitam-se a gritar por aí, ele é o maior, poeta cristão, superior a Shakespeare... Eu estudei a obra completa do poeta. Produzi muitas páginas a respeito, que serão publicadas, em resumo, lá no blog, no momento correto. E por ter feito esta verificação, eu me pergunto se os tolentinianos realmente leram A balada do cárcere, por exemplo, e perceberam que o poeta teve a enorme sorte de, ao ser preso, em Dartmoor, acabar topando com a personagem de Oscar Wilde e que, quando acaba a descrição da personagem, o poema se transforma numa sucessão de citações literárias que deixam o leitor à beira de uma morte por asfixia. Além disso, será que eles leram A imitação do amanhecer e viram que pelo menos metade do que lá está é mera repetição de um escritor mais que prolixo?

B. CASOY – Não sei, Xoxó. Vamos falar do blog. Muitos leitores, muito sucesso e muita inimizade?
Sim, sim! Leitores às pencas. Teve dias em que o blog chegou a ter mais de mil acessos, é impressionante! A inimizade é consequência do trabalho do sátiro. Nem todos compreendem o espírito da coisa. E as acusações (coisa chatíssima) de processo, de agressão etc. não param. Além disso, a forma com a qual se protegem é, como o que eles escrevem, sempre a mesma conversa. Xoxó é frustrado! Xoxó é isso, é aquilo, e sou mesmo, mas o que de fato incomoda é que sou bom, porra! Por isso, vão ter que me engolir (risos)! Agora, vamos lhes dar crédito, Xoxó é só alguém com inveja, não se sabe do quê, mas enfim, é só alguém com inveja. O leitor pode então visitar suas ‘obras’, seus sites, e ver com os próprios olhos que a piada já vem pronta. Outro dia...

B. CASOY – ...outro dia disseram que você era uma revelação estonteante da poesia de escárnio em Língua Portuguesa...
...foi o Érico Nogueira quem o disse...

B. CASOY – ...vocês se conhecem? Melhor, você conhece o que ele escreve? Ele é bom poeta?
Não nos conhecemos, nunca conversamos, nem mesmo por e-mail. Inclusive, gostaria até de lhe recomendar o meu oftalmologista, pois o coitado sofre de uma conjuntivite crônica. Li o seu primeiro livro no final de 2009, se não estou enganado. Grata surpresa! É um poeta erudito, com amplo domínio da linguagem alegórica, fato que lhe proporciona concisão, clareza e musicalidade espontânea. Até aí nada demais! O que de fato o diferencia é algo que eu chamaria de elegância. Seus poemas são conscientemente compostos com base neste senso, que parece tão natural, de estilo e bom gosto e que em nenhum momento se assemelha a afetação. Entretanto, sua poesia ainda carece de certa robustez temática, digamos assim. Ele já apresenta uma voz muito bela, mas seus temas ainda são muito ralos. Holderlin, Holderlinho etc. tudo isto é firula; bela firula, por sinal, mas ainda assim...

B. CASOY – ...é um poeta de linhagem tolentiniana?
De modo algum! Seu verso é por demais conciso e seu tom é maior. Seu apuro formal, imensamente superior e sua busca temática, mais sincera. Óbvio que quando falamos em Tolentino, falamos num poeta mais experimentado. Nogueira tem amplas chances de chegar lá, embora algumas de suas últimas produções, publicadas em seu site, estejam num nível um pouco abaixo do que fora apresentado em O livro de Scardanelli. Na Bahia...

B. CASOY – ... quem é Xoxó, onde vive, o que faz?
Sou Caribó Literato, corno, poeta e viado (risos). Vivo na Bahia, terra de meu padrinho Jorge Amado. E por falar nele, a prosa brasileira contemporânea é...

B. CASOY – ...vamos deixar a prosa para outro dia. Então, segundo o que pude apurar, não há bons poetas de linhagem tolentiniana?
Não. Na verdade, me parece que a herança intelectual de Bruno Tolentino até então é muito mais uma ideia de cultura do que necessariamente uma leitura aprofundada de sua obra – e, aliás, uma ideia de cultura muito restrita a um grupo específico e que deve muito também aos escritos do Olavo de Carvalho. Há alguns jovens, para ilustrar a questão, que leram as coisas do Bruno superficialmente e, de alguma forma, passaram a emular o que nela há de pior, que é o tom, o palavrosismo, as citações etc. Isto ocorre evidentemente com o Silvério Duque. No mais...

B. CASOY – ...esta ideia de cultura é algo ruim?
É importante observar que esta ideia de cultura traz de volta ao ambiente artístico brasileiro a simpatia pela erudição, e isto é muito bom. Entretanto, ela, a erudição, não nos garante uma arte mais forte, mais expressiva. Ela nos garante pessoas mais comprometidas e até melhor preparadas. Um exemplo claro disto são os jovens tradutores, tais como o Pedro Sette Câmara. Traduz, apresenta uma visão muito esclarecida das questões que envolvem a produção de arte etc., mas escrevendo é um Gilberto Braga mais empoladinho, e menos atraente. Contando ninguém acredita: Valter, Carlota, Guilherme, um enredo de intrigas amorosas claramente manipuladas pelo autor e, como se isto fosse pouco, evocação de poesia parnasiana e consciência católica – puta que pariu! eu fiquei surpreso, porque o carinha aparenta ter condição para mais, mas talento é uma coisa extremamente misteriosa. Veja o Jessé de Almeida Primo, que é uma cria do Tolentino, verifique seu blog e mostre pra mim se, do que há lá, além do que o poeta já disse, tem algo mais do que análises ginasianas de trechos de poemas. E a fixação dele por catolicismos e que tais é tão paranóica que no seu último post, leiam lá, ele confunde uma troça do Alphonsus Guimarães em relação a Portugal com uma oração. É por isso que tem que ter Xoxó no seu fiofó!                            

B. CASOY – (risos) E o que você quer com tudo isto? E aquele bando de desconhecidos que aparecem no blog: Gustavo Felicíssimo, José Inácio vieira de Mello, Mayrant Gallo etc., quem são eles?
Estes aí são os meus animais de estimação. Eles estão lá para nos divertir. São a fauna e a flora marinha da literatura. Nem ler eles lêem, vivem só de furicagem nos blogs e nas edições custeadas com o saldo de meses e meses de economia do leite das crianças, coitados! São trocadores de bajulação. Se você disser que eles são bons, eles retribuem de modo assustadoramente desvairado. Dêem uma chegadinha no blog deles e vejam os elogios despropositados. Portanto, Casoy, eu só quero me divertir. Na verdade, sou biba vagabunda que acertou na loteria. Além de caçar macho, nada tenho pra fazer. Então, li em algum lugar que só os humanos riem. Não entendi, porque eu que sou um animal silvestre e rio o tempo todo. Eles que são racionais, intelectuais, passam por mim com a cara fechada numa seriedade que até dá medo, pois...

B. CASOY – ...você hoje está tão feliz, tão falante, saltitante...
...é o reconhecimento, gato, o reconhecimento!              

           
  
      

domingo, 14 de agosto de 2011

GRINALDA DE GALLO - UM CANTO AGUDO DE LIRISMO

                                                        para Carlos Barbosa

E o Gallo sempre a padecer velho tormento:
ou dá casado ou então morre no cio!
E de seu bico chora o eterno balbucio:
galada de outro galo é galamento. 


                                                       De Caribó Literato, 
                                                       corno, poeta e viado

POSTERIDADE DE XOXÓ

                       para as galáxias distantes e o futuro próximo


Um dia
meu verso
será
a via
de acesso
do homem
comum
a todo o
universo.

                       De Caribó Literato,
                       corno, poeta e viado 

sábado, 13 de agosto de 2011

SERÁ QUE O OLAVO JÁ CONCLUIU A... INTRODUÇÃO?

é aquele mesmo náufrago da existência, que ali aparece, mendigo, herdeiro inopinado, e inventor de uma filosofia

Há quantas anda o amigo Quincas Borba?
(o filósofo, sim, não o cachorro),
o tal mendigo cuja sorte e algum apoio
lhe deu um canto pra escrever sua obra,

que é prosa inacabável e volumosa,
tal qual uma escultura de carranca,
introduzindo o intróito, em velho mantra,
de um problema que a muitos é só troça. 

Não esqueço seu brilho de babosa,
seu olhar de rapina, voz metálica,
nariz adunco e conversão fleumática
de ditos clássicos em polca rancorosa. 

                                                        De Caribó Literato,
                                                        corno, poeta e viado.

     

sexta-feira, 12 de agosto de 2011

DEU A LOUCA NO ASILO 1 - XOXÓ ACONSELHA GULLAR A POR FIM EM DIATRIBE COM AUGUSTO DE CAMPOS

                                                                    para Jaguar 

Vai, Gullar, come logo o Augusto,
adentre aquele campo airoso
e o faça ver por que és guloso,
apesar de velho caduco.

                                         De Caribó Literato,
                                         corno, poeta e viado

SALTITANTE


                           para Antonio Carlos Secchin, amor eterno

Amar é coisa de viver
de beco em beco;
quebrar a cara e se esconder,
andar com medo

que alguém invada o seu quintal,
saiba o segredo:
no interior do milharal
nasceu um pêssego.

                                       De Caribó Literato,
                                       corno, poeta e viado
                                      

quinta-feira, 11 de agosto de 2011

DICIONÁRIO XOXÓ DE FILOSOFIA

                                                                para Emir Sader

OLAVOFILIA s. f.
1Fixação de mamífero garboso
sem nenhum jeito pra filosofia.
2Câncer parenteral que prenuncia
transformação de cérebro em caroço.

                                                   
                                                              De Caribó Literato,
                                                              corno, poeta e viado

AUTOMATISMO


                            para Reinaldo Azevedo, cabra bom  

Ele é do bem
mas se alguém
lhe diz PT:

seu corpo mole
rebola, bole,
pra Veja ver.

   
                             De Caribó Literato,
                             corno, poeta e viado