sexta-feira, 29 de julho de 2011

XOXÓ GALOPA NO CORDEL E CONTA A SAGA DO CAVALEIRO DE FOGO


Eu não gosto de cordel,
que é verso de macho burro,
preguiçoso e tabaréu.
Mas sou biba proletária
a serviço da poesia,
se cordel fica melhor,
no cordel a biba pia.  
I
A INFÂNCIA DO CENTAURO,
O SEU BATISMO DE FOGO

O cavaleiro de fogo,
por ser o filho caçula,
foi criado sem limites,
desfrutando as travessuras

de uma infância bem folgada
lá nas roças de Alagoas –
muito espaço, mesa farta,
muita coisa muito boa.

O seu pai, tão ocupado,
era o chefe da fartura;
a sua mãe, senhora honesta,
suspeitava as aventuras

de correr atrás de jegue
e ficar sorrindo à toa
como se jegue tivesse
muita coisa muito boa.

Seus irmãos, trabalhadores,
bons rapazes da labuta,
obedecendo aos seus pais,
o seguiram numa fuga e

encontraram-no debaixo
de uma besta acolhedora
e chamaram de centauro
o que viram na lagoa:

encaixados um no outro,
parte homem, parte mula
pareciam uma só coisa
a gozar com tanta gula,

sussurrando seus gemidos,
tal qual prece sofredora,
que se escutava quincon
e até ai, meu Deus, que rola!

II
A ROMARIA PRA BAHIA,
O CAVALEIRO TRANSFORMA VASSALAGEM EM POESIA

Assim, já desalojado
da morada da família –
pois seu pai, um homem sério,
não queria um filho-filha –

foi viver em Salvador,
cidade de vadiagem,
se instalando bem no centro
da maldita poetagem.

Como herdou das alimárias
as orelhas bem compridas,
pensava ter bom ouvido e
compor versos com medida,

mas o seu quincon chorado
só falava em sacanagem,
era um tal de cu lascado
numa esquisita viagem

que ninguém compreendia.
Mesmo Ildásio consertando,
Conceição ali sofria
pra limpar aquilo tudo.

E, pagando, publicando –
os dois pês que tanto alegram  
os ‘poetas’ da Bahia –
sua empáfia foi crescendo e

até prefácio já fazia.
Foi aí que começou
sua era de alegria,
já nem lembrava do jegue

que feliz lhe fez um dia.
Mas, bom leitor, traiçoeira,
insensível é a poesia.
Se quiser esconder algo,

como Freud já dizia,
afaste-se do papel,
busque outra fantasia,
outra forma de ilusão.

Nosso herói, o cavaleiro,
pensava ter superado
o tesão por alimárias.
Engano, o pobre coitado,

quando pegava na pena,
voltava a ser o centauro,
parte mula, parte hiena,
parte jegue, parte tauro.  
  
III
DAS ROSAS E DAS PROSAS,
DESSAS E DAQUELAS

Roseiral é um livro horrível
e, por mais que haja discurso,
ninguém salva aquelas flores
de apodrecer sem recursos

que lhes possam embelezar.
Zé Inácio não é poeta,
e por mais que todos saibam,
só eu mesmo vou falar.

Não tem jeito com as palavras,
é cafona e pensa mal.
Observem: Roseiral
quando quer dizer Canteiros...   

A sua imaginação
é a de um velho analfabeto
que escuta Amado Batista,
cheira pó e imita os netos.

Não conhece a tradição,
não sabe metrificar,
e se chama de moderno
se talento já não há.

Vai dizer que é pura inveja,
mas meus versos são sem par,
se não sou um cavalheiro
é porque não sei babar.

Jamais me rebaixaria
a correr atrás de gente
que me possa elogiar,
validar minha fidalguia.

Aliás, meu caro Inácio –
que é assim, não vai mudar –
creio numa prelazia,
não pago pra publicar.

Não tenho ânsia, euforia,
pra posar de literato.
Minha obra é o dia-a-dia.
O epigrama é o meu regaço,

onde adormeço tranqüilo,
orgulhoso do que faço.
Não me atraem as falsidades,
as Marias do cangaço.

Os que agora estão contigo
sabem que digo a verdade
mas preferem se calar
a perder a “amizade”,

pois tu és cabra ranzinza
que não gosta do contrário,
e é por isso que é zombado
e até tido como otário.

O seu verso nos inspira,
nos faz rir, torcer a cara.
Lê a rosa que cultivo,
o meu roseiral não falha.

                                            De Caribó Literato,
                                            corno, poeta e viado

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