sábado, 30 de julho de 2011

XOXÓ INVADE A OFICINA DE LITERATURA DE CONCEIÇÃO PARANHOS

                                                              I
CARIBÓ ENTRA ABRUPTAMENTE NA SALA, MÃO NA CINTURA, QUEIXO ENLEVADO, VOZ ALTEADA (havia acabado de ler o blog do Gustavo Felicíssimo)

Paranhos,
me faça o
favor!

Diz: foi
tu quem
botou

titica
em cuca
de rato?

Pois anda
agora
Gustavo

bufando,
dizendo
que é rei.

II
CONCEIÇÃO ASSUSTADA, BRAÇO CRUZADO, VOZ TRANQUILA

Não! Eu
apenas
lhe dei

um caldo
de canja
aguada.

Um rei,
Xoxó?
Piada!

III
CARIBÓ (IMITATIVO) EM TOM ELOQUENTE

Curica
de cu,
culhão.

Caribó recomposto

Três versos,
uma empáfia
do cão,

o biba
já é todo o
Japão

em cinco
haikai’s
falhados...

Mas veja!

Depois
sou eu o
viado!


                         De Caribó Literato, 
                         corno, poeta e viado


TODO MUNDO ABRAÇA O RUY

Todo mundo abraça o Ruy
mas só quem o lê sou eu
sempre espantada com os versos
mais rodados que pneu.

Às vezes lembram Drummond,
às vezes lembram Quintana.
E, como diz Pereyr,
às vezes lembram sua fama

de dançar, bailar, luzir,
conforme a música manda.
Conjugam o verbo Ruir
os seus amigos de cana.  


                                            De Caribó literato,
                                            corno, poeta e viado

DUQUE TRASH II

Bom, aliás,

foi o cemitério de Silvério
que ao cine trash deu nova cara
e hoje quem assusta não são monstros
mas os seus erros de gramática.


                                                  De Caribó Literato,
                                                  corno, poeta e viado

DUQUE TRASH

O blog de Silvério
parece um cemitério
francês de madrugada:

em meio a um mundo escuro
reluzem algumas lâmpadas
pra iluminar o nada.


                              De Caribó Literato,
                              corno, poeta e viado

sexta-feira, 29 de julho de 2011

DISTINÇÃO DO POETA



- Lá vai o Silvério!
- Qual deles, rapaz?
- Silvério careca,
testudo e audaz,

que tem uma pompa
de quem sabe mais,
de quem lê o avesso
do lado de trás,

de quem joga o jogo
repleto de ás,
de quem leva o barco
e carrega o cais...

-É aquele Silvério
com jeito de bicha,
gaguinho e zoiúdo
metido a artista,

que toca na banda 
 aqui jamais vista
(ninguém quer o baile
do clarinetista)?

-É este o Silvério,
poeta copista
de tom modorrento,
seguindo na pista

de um cristo cinzento
achado na lista
dos classificados
de alguma revista

que dá ‘nobres temas’
a uns carreiristas
sem inspiração
buscando a conquista

de dinheiro e fama
e alma benquista
e mundos e fundos
que aqui não se avista.

- Ô pobre Silvério,
cascudo e voraz,
teu verso é uma fêmea
que geme demais.

Se acaso sentisse,
e sente, aliás,
o ritmo frouxo
dos seus tristes ais...

mas quem não percebe
os vivos sinais
jamais vê seus erros
tão gramaticais.


                                         De Caribó Literato,
                                         corno, poeta e viado

XOXÓ GALOPA NO CORDEL E CONTA A SAGA DO CAVALEIRO DE FOGO


Eu não gosto de cordel,
que é verso de macho burro,
preguiçoso e tabaréu.
Mas sou biba proletária
a serviço da poesia,
se cordel fica melhor,
no cordel a biba pia.  
I
A INFÂNCIA DO CENTAURO,
O SEU BATISMO DE FOGO

O cavaleiro de fogo,
por ser o filho caçula,
foi criado sem limites,
desfrutando as travessuras

de uma infância bem folgada
lá nas roças de Alagoas –
muito espaço, mesa farta,
muita coisa muito boa.

O seu pai, tão ocupado,
era o chefe da fartura;
a sua mãe, senhora honesta,
suspeitava as aventuras

de correr atrás de jegue
e ficar sorrindo à toa
como se jegue tivesse
muita coisa muito boa.

Seus irmãos, trabalhadores,
bons rapazes da labuta,
obedecendo aos seus pais,
o seguiram numa fuga e

encontraram-no debaixo
de uma besta acolhedora
e chamaram de centauro
o que viram na lagoa:

encaixados um no outro,
parte homem, parte mula
pareciam uma só coisa
a gozar com tanta gula,

sussurrando seus gemidos,
tal qual prece sofredora,
que se escutava quincon
e até ai, meu Deus, que rola!

II
A ROMARIA PRA BAHIA,
O CAVALEIRO TRANSFORMA VASSALAGEM EM POESIA

Assim, já desalojado
da morada da família –
pois seu pai, um homem sério,
não queria um filho-filha –

foi viver em Salvador,
cidade de vadiagem,
se instalando bem no centro
da maldita poetagem.

Como herdou das alimárias
as orelhas bem compridas,
pensava ter bom ouvido e
compor versos com medida,

mas o seu quincon chorado
só falava em sacanagem,
era um tal de cu lascado
numa esquisita viagem

que ninguém compreendia.
Mesmo Ildásio consertando,
Conceição ali sofria
pra limpar aquilo tudo.

E, pagando, publicando –
os dois pês que tanto alegram  
os ‘poetas’ da Bahia –
sua empáfia foi crescendo e

até prefácio já fazia.
Foi aí que começou
sua era de alegria,
já nem lembrava do jegue

que feliz lhe fez um dia.
Mas, bom leitor, traiçoeira,
insensível é a poesia.
Se quiser esconder algo,

como Freud já dizia,
afaste-se do papel,
busque outra fantasia,
outra forma de ilusão.

Nosso herói, o cavaleiro,
pensava ter superado
o tesão por alimárias.
Engano, o pobre coitado,

quando pegava na pena,
voltava a ser o centauro,
parte mula, parte hiena,
parte jegue, parte tauro.  
  
III
DAS ROSAS E DAS PROSAS,
DESSAS E DAQUELAS

Roseiral é um livro horrível
e, por mais que haja discurso,
ninguém salva aquelas flores
de apodrecer sem recursos

que lhes possam embelezar.
Zé Inácio não é poeta,
e por mais que todos saibam,
só eu mesmo vou falar.

Não tem jeito com as palavras,
é cafona e pensa mal.
Observem: Roseiral
quando quer dizer Canteiros...   

A sua imaginação
é a de um velho analfabeto
que escuta Amado Batista,
cheira pó e imita os netos.

Não conhece a tradição,
não sabe metrificar,
e se chama de moderno
se talento já não há.

Vai dizer que é pura inveja,
mas meus versos são sem par,
se não sou um cavalheiro
é porque não sei babar.

Jamais me rebaixaria
a correr atrás de gente
que me possa elogiar,
validar minha fidalguia.

Aliás, meu caro Inácio –
que é assim, não vai mudar –
creio numa prelazia,
não pago pra publicar.

Não tenho ânsia, euforia,
pra posar de literato.
Minha obra é o dia-a-dia.
O epigrama é o meu regaço,

onde adormeço tranqüilo,
orgulhoso do que faço.
Não me atraem as falsidades,
as Marias do cangaço.

Os que agora estão contigo
sabem que digo a verdade
mas preferem se calar
a perder a “amizade”,

pois tu és cabra ranzinza
que não gosta do contrário,
e é por isso que é zombado
e até tido como otário.

O seu verso nos inspira,
nos faz rir, torcer a cara.
Lê a rosa que cultivo,
o meu roseiral não falha.

                                            De Caribó Literato,
                                            corno, poeta e viado

A INFELIZ APARIÇÃO DE GUSTAVO FELICÍSSIMO

o nascimento do poeta, seu encontro com a musa
com cópia para Charles Baudelaire

O teu haibun da pescaria lembra a lua 
chorando horrores o luar mais tedioso
que a triste noite viu nascer na triste rua,
 
onde gemendo, tua mãe, num lento esforço,
cagou você, mas que cocô!, e ainda nua
rogou ao demo retalhar aquele estorvo.

Não fosse a dor da rosa hiante que menstrua,
a perna podre de ir e vir naquele fosso,
o gosto amargo da maconha que empanturra

o corpo frágil de um prazer débil e insosso,
tua pobre alma não seria alma tua,
teria ido, como tantas, pro esgoto

e a grande arte perderia as garatujas
de um fanfarrão cheio de empáfia e boquirroto.  
Tua má poesia é aquele demo quem sussurra,

aquele mesmo a quem tua mãe mostrou seu rosto,
mas retalhar uma figura fraca e suja?
darei ao mundo mais um insensato porco,

repetirá, sem saber como, uma a uma
das rimas tolas que direi pra seu consolo,
falarão dele, os seus confrades, é uma mula,

e as risadas chorarão em alvoroço.
O teu haibun da pescaria lembra a lua 
chorando horrores o luar mais tedioso.


                                                                               De Caribó Literato,
                                                                               corno, poeta e viado

XOXÓ COMENTA A LISTA DOS DEZ MAIORES ESCRITORES DA BAHIA


Quem é você,
Carlos Ribeiro,
pra figurar
entre os primeiros
em uma lista
de literatos?

Se a lista fosse
de analfabetos,
de almofadinhas,
de paga-paus...
Quem é que escreve
nesse jornal

pra comparar
mestre Gregório
com um lambe-bota,
um Zé Lelé,
um monoglota
que posa alegre

na Academia,
e não tem obra,
só alguns livros
pra iludir
os bobalhões
da autarquia?

A coisa tá
muito pior
nesta cidade.
Perdeu-se o rumo,
a distinção
e a honestidade.

Só tem larápio,
aventureiro
e mentiroso.
Uma corja burra,
tão pueril
que até dá nojo.

E bem parece
que assim fazendo
vão conseguir
uma editora
pra publicar  
os seus gibis

e alguns leitores
para os livrar
da solidão...

                         Vão não!

Sonham dinheiro,
notoriedade
e a sensação

que têm poder,
que têm talento
e são alguém...
Querem ser outro
porque são nada
e nada têm.

Abriram cotas
há muito tempo
para a poesia.
Quem dera os anos
que o escritor
e a fidalguia

somavam faces
de uma só moeda
e não havia
esses mendigos
mortos de fome,
cuia na mão.

Mas passarão
porque são como
a freguesia
que o baixo preço
chama à quitanda
e enche o salão.

Já perguntaram
porque me ocupo
destes senhores
e eu respondi
que é só porque
guardo os valores

da dignidade
aqui comigo:
jamais mentir
e não poupar
de uma boa análise
nem mesmo o amigo.

Como mensagem
às gerações
que hão de vir,
deixo estes versos
para provar
que alguém aqui

não se enganava
e acovardava
na companhia
desses bufões  
que só conseguem
nos fazer rir.  

                                    De Caribó Literato,
                                    corno, poeta e viado.

XOXÓ METE MEDO

Velhos metidos
torcem o nariz.
Moças donzelas
choram de medo.

Bicha enrustida
grita infeliz:
Xoxó quer ser
o grande aedo.

Homens franzinos
coçam o bigode.
Uns beberrões
bebem ainda mais.

Os cabeludos
sonham de noite:
vou acordar
pra apanhar mais.

E os que militam,
os que palestram
lendo papéis
chatos demais,

tremem ao ver
Don Caribó,
braços abertos
chegando ao cais.

                             De Caribó Literato,
                             corno, poeta e viado.