sexta-feira, 29 de julho de 2011

DISTINÇÃO DO POETA



- Lá vai o Silvério!
- Qual deles, rapaz?
- Silvério careca,
testudo e audaz,

que tem uma pompa
de quem sabe mais,
de quem lê o avesso
do lado de trás,

de quem joga o jogo
repleto de ás,
de quem leva o barco
e carrega o cais...

-É aquele Silvério
com jeito de bicha,
gaguinho e zoiúdo
metido a artista,

que toca na banda 
 aqui jamais vista
(ninguém quer o baile
do clarinetista)?

-É este o Silvério,
poeta copista
de tom modorrento,
seguindo na pista

de um cristo cinzento
achado na lista
dos classificados
de alguma revista

que dá ‘nobres temas’
a uns carreiristas
sem inspiração
buscando a conquista

de dinheiro e fama
e alma benquista
e mundos e fundos
que aqui não se avista.

- Ô pobre Silvério,
cascudo e voraz,
teu verso é uma fêmea
que geme demais.

Se acaso sentisse,
e sente, aliás,
o ritmo frouxo
dos seus tristes ais...

mas quem não percebe
os vivos sinais
jamais vê seus erros
tão gramaticais.


                                         De Caribó Literato,
                                         corno, poeta e viado

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