sábado, 24 de setembro de 2011

INTERLÚDIO LÍRICO: XOXÓ APRESENTA AOS SEUS LEITORES TEXTO DE JUVENTUDE RECUPERADO NUMA GAVETA VELHA

PAIDEIA    
para João Paulo

são teus, meu pai, os frutos
         duramente
         não colhidos.
A. Brasileiro
       
      Filho, não sei por onde caminhamos,
    sei apenas que essas terras em que vamos
    são o pó de nossa própria carne.
    Agora, fecha os olhos, já é tarde,
      e não conta as estrelas - todo brilho
    respandlece num sono simples, filho.
    Enrola-te na colcha que te trouxe 
    e adormece as venturas, somos hoje.
      Amanhã cedo, cedo voltaremos
    à marcha, não haverá fôlego para,
    cansados, debulharmos o caminho.
      Como aves que se fiam em suas asas,
    calados, solitários, seguiremos
    feito apenas de nós o nosso ninho.
    
       Pai... Ô pai... Como sossegar sem sono?
    Aceito tuas ordens mas não domo
    os espaços vazios pulsando em mim.
    E se eles atormentam, fico assim,
      inquieto como um cão doido, no cio,
    trincando os dentes, que chacoalham ao frio
    de mais uma noite finda só, ao relento.
    Iremos sempre chocalhos do tempo?
      Amanhã seguiremos, assim seja;
    depois também, estou reconfortado
    já que de pó foi feita a nossa carne.
      Não podemos estar a tantos passos
    desse lugar desencontrado, vejo
    montes crescendo, pai, aos meus olhos que ardem. 

Um comentário:

  1. Querido, como faço pra te conhecer pessoalmente?
    P.S.: sou greta.

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